Sunday, March 25, 2007

de encher as bistinhas...





Este sábado (ou ontem, mais precisamente(, fui ver um espetáculo fantástico de dança contemporanea... deborah colker é o nome da coreógrafa, "Nós" o do espetáculo
. Meus amigos, haja erudiçao!!!
Crítica e fotos aqui...confiram, se tiverem vontade.
(Nota: eu podia querer louros, mas vou confessar que, obviamente, o texto n é meu...)



AMARRADO E EMOTIVO


Companhia de Dança Deborah Colker

"Quão deliciosos são estes implementos de tortura", escreveu Marquês de Sade. "NÓ", último trabalho da coreógrafa brasileira Deborah Colker, teria o feito babar em dois tempos.
A luz tem tom sépia, a música é uma batida dissonante. Uma mulher fica de pé, seus pulsos e tornozelos atados, enquanto um homem ajusta e aperta suas amarras. Eles parecem nus, salvo por tapa-sexos.
Quando os dançarinos se dobram e contorcem, estes tapa-sexos parecem crescer, expostos por uma perna que sobe acima do ombro ou um braço que surge debaixo de uma virilha. Do pé-direito penduram 120 cordas, unidas num ponto central, uma arvore da vida na qual os dançarinos se contorcem e enroscam, num momento latejantes de prazer, no outro retesados de dor.
Colker, que já foi estudante de psicologia e jogadora de vôlei profissional, levou sua companhia de 17 membros para seminários de filosofia e aulas de atadura de Nós náuticos em preparação para esta enérgica exploração do desejo. O resultado é empolgante, intenso e, às vezes, inquietante: uma exposiçãoo altamente elétrica da dinâmica sexual.
Em parte alguma isto fica mais explícito do que na cena em que um homem faz uma alça de corda ao redor de uma mulher, a ergue por esta alça, coloca sua própria cabeça na alça e sai andando, o corpo dela ao mesmo tempo um NÓ apertado de submisso contra seu peito e um fardo dominador.
O momento mais explicitamente erótico é um dueto feminino. À esquerda do palco está pendurado um feixe de corda com a aparência de longos cabelos, embaraçado como dreadlocks. As mulheres o circulam e uma é outra, então o balançam para a trás e para frente, depois se enroscam nele, o tempo todo acariciando as cortinas de cabelo, ocasionalmente o repartindo para revelar rostos úmidos, olhos vidrados de desejo.
Há muito mais acontecendo aqui do meramente a dança. Olhares e toques são trocados e, em um momento, uma brincalhona palmada na bunda, tornando-nos todos voyeurs. A segunda parte de NÓ se constrói sobre este voyeurismo. Uma caixa transparente toma o lugar da floresta de corda, um clarão brilhante joga um fulgor ríspido sobre a estória.
Aqui, os figurinos são paramentados num vermelho vivo, propositalmente brega, seus rostos refulgentes com a mais pura luxúria. Um homem com cabelos cor-de-fogo saltita como um sátiro sorridente. Há um pouco de dança-de-poste de bar stripper, há um picante jazz dos anos 70 e muito espremer de corpos contra as paredes de plástico transparente. Fica bem mais "hardcore" neste ponto. Talvez até o Sade perdesse o apetite.